O efeito Werther

29/12/2017 13:15

Além de sermos falantes somos seres “copiantes”. Temos uma tendência inata de imitar os comportamentos, porque funcionamos por espelhamento. O bebê aprende de si no contato com o Outro. Somos imagem e semelhança de alguém ou de alguma coisa. Somos imagem e semelhança de Deus dizem os religiosos. Somos copiantes!

 

O que faz com que sejamos assim? Cópias de outros que são cópias de outros? Nossa natureza alienante!  Somos seres dependentes de outros seres. Não temos condição biológica inicial independente. Precisamos do outro para sobreviver.

 

No entanto, após os primeiros anos, deveríamos gradativamente romper com essa alienação e ir, pouco à pouco, nos tornando independentes. Mas ocorre exatamente o contrário. A cada dia nos tornamos dependente do outro, desta vez não biologicamente, mas sim psiquicamente. Uma alienação difícil de romper porque muito forte e séria, por uma repetição infantil e por medo da solidão.

 

Assim, por não possuir essa capacidade de lidar com a nossa solidão, e por não saber o que somos e para onde vamos, copiamos os outros que reputamos como sabedores daquilo que somos, por identificação.

 

Com as redes sociais essa capacidade de espelhamento aumentou geometricamente e as possibilidades de identificação aumentaram junto com a nossa solidão ausente de sentido e valor, porque não aprendemos a ser só. A partir dessa constatação buscamos nossos iguais e nos portamos assim como eles, na maneira deles, encontrando um rumo, um sentido.

 

A tendência à imitação de comportamentos não é exclusividade dos dias de hoje. No século XVIII, com o romantismo Alemão veio o primeiro livro de Goethe, Os sofrimentos do Jovem Werther. Um clássico, que assim como a postagem que viraliza hoje em dia, do minuto para a hora, viralizou em sua época, causando grande comoção social e algumas tragédias não previstas.

 

O romance de Goethe, que muitos reputam autobiográfico conta a história do jovem Werther, que tendo se apaixonado por uma mulher, descobre que esse amor é impossível por ela já ser comprometida. Ao final do romance, quando ele tem o insight de que será impossível ter esse amor em seus braços ele se suicida.

 

Essa história influenciou muita gente. Assim como as histórias narradas nas redes sociais influenciam outras pessoas, que copiam comportamentos e causam muitas desgraças por aí, a história de Gothe causou muitos suicídios naquela época, no que ficou conhecido como o efeito Werther. A tendência do ser humano de copiar outros comportamentos por identificação fazia sua estreia neste momento. Hoje não é diferente. Vemos a multiplicação de muitas barbaridades e de muitas coisas legais por aí. Assim como a violência pode ser copiada e compartilhada, viralizando como um efeito Werther vemos também bons comportamentos multiplicando-se da mesma forma. Várias histórias de amor ao próximo e de solidariedade estão aí para provar o que digo.

 

O que quero dizer é o seguinte: sabendo que somos naturalmente copiantes, e que há a possibilidade de desalienar, buscando uma autonomia psíquica, e uma vida “solitária”, que devemos ficar atentos com aquilo que está influenciando nossos comportamentos. Porque seja o que for, é por conta de uma alienação psíquica, herança comportamental e repetitiva de uma alienação biológica inicial, que é ressignificada como inexorável, por não tentarmos fazer diferente.