Desejamos o que é do Outro

14/12/2014 20:44

A grande questão é que não suportamos não ter o que o outro tem. Não suportamos não ser o que o outro é. Nossos olhos enxergam pela lente do imaginário e o que o outro tem/é, torna-se melhor do que aquilo que temos/somos. 

 

O gozo do outro é o gozo dos deuses, dos onipotentes; a roupa do outro é mais fashion que a nossa, está mais na moda que a nossa, veste um corpo melhor que o nosso. O carro do outro é melhor, a casa, a mulher, o relógio, a graduação, o nariz, os dentes são mais brancos, o cabelo é mais liso, a celulite do outro é mais invisível, ou melhor, o outro nem tem celulite, mas nós temos as piores, as mais gigantes; o outro tem mais músculos, mais dinheiro, o melhor emprego, sabe mais que a gente, conhece melhor o mundo, viaja bastante, e nós? 

 

Nós nunca temos nada, apesar de ter roupa fashion, nossa roupa é da moda; temos um corpo saudável; temos um carro bacana, uma casa confortável, nossa mulher é especial, temos um relógio que cumpre seu objetivo, nos graduamos e temos uma profissão, nosso nariz é perfeito para respirar, nossos dentes mordem e mastigam como ninguém, nosso cabelo ainda molda nosso rosto, nossa celulite é efeito do tempo e da experiência de vida, nossos músculos são resistentes e funcionam; nosso dinheiro suado pode vir se fizermos por onde; temos emprego e se não o temos poderemos conseguir um se quisermos; qualquer pessoa que se interessar pode conhecer diversas partes do mundo e suas histórias; o que não é suportável é viver uma vida sem desejo. 

 

O pior de tudo é que o outro pensa da mesma maneira em relação aos outros. Ele está lá remoendo seus conflitos, imaginando que tudo que ele tem/é não chega aos pés de tudo que o outro tem/é, e assim a gente segue comparando o tamanho do falo.

 

O desejo move a nossa história; se o temos vamos em busca daquilo que nos satisfaz, e se não o temos perdemos tempo observando o outro que deseja e corre atrás. Bastar-se é uma possibilidade. Curtir a vida como uma eterna criação, dia após dia, é um segredo que poucos conhecem. Desejar o que se tem/é, como uma novidade a cada momento, nos fará muito mais felizes. 

 

Projeto para 2015: Bastar-se! Buscar em si a felicidade latente, que não depende nem de coisas e nem do outro, mas apenas de si. Me dá um si e bora cantar!